domingo, 24 de julho de 2011

Sentir sem ver - Ariane Bravin

 

Moro em um dos bairros mais tradicionais do município de Cariacica. Seu nome está relacionado à visão que temos do mar azul tão distante. Vista Mar, esse bairro tranquilo, sempre foi e sempre será o meu lar.

Ao sair de casa logo cedo, começo a observar tudo o que acontece ao meu redor e que acompanho todos os dias. Posso observar enquanto estou parada em frente ao portão de casa as pessoas que passam por ali cotidianamente. Entre elas uma que me chama a atenção. É um simpático senhor deficiente visual que passa por ali, todos os dias, no mesmo horário, no mesmo local.

Lá vem ele descendo a ladeira com sua bengala batucando de um lado para o outro. Cada batuque um som diferente. É interessante, pois sua bengala é sua visão. Sendo assim, por meio dela ele pode “ver” o que está em seu caminho.

Ao passar ao meu lado, ele me cumprimenta sempre com um “bom dia”. Fico a imaginar como pode ele perceber que estou ali se seus olhos não chegaram até mim e sem mesmo eu ter emitido algum tipo de som que seus ouvidos pudessem me escutar.

E lá vai ele descendo a ladeira atentamente, sem errar nenhum passo para não perder a pose. E cada pessoa que passa ao seu lado recebe um cumprimento educado, um simples “bom dia”.

Ao observar essa cena que se repete todos os dias, fico imaginando como é interessante o fato de que sem ao menos enxergar as pessoas, ele as trata com educação, diferente de algumas pessoas consideradas perfeitas. E mesmo sem poder ver o que está ao seu redor, pode sentir a energia de cada um. Ele pode não ter acesso à vista que temos do mar, porém, apesar da distância, pode sentir o que não sentimos, sua brisa.


A autora é aluna do 2º Ano do Ensino Médio - EEEFM "Prof. José Leão Nunes" - Texto Semifinalista das Olimpíadas de Língua Portuguesa - Escrevendo o futuro - 2010 - Categoria Crônica.